quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

MEL do pai tem “aquele” gosto

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Há algum tempo atrás, disse neste sítio que haveria de me referir à actividade de apicultor que desenvolvi apaixonadamente e que forças de circunstância, relacionadas com a saúde, me intimaram a abandonar.
A história é longa e profunda. Vem do âmago do meu próprio conhecimento pessoal. Vou tentar ter consideração pelo leitor.

Desde os meus 4 ou 5 anos de idade - vou nos setenta - guardo a recordação gustativa do mel que o meu pai extraiu de duas colmeias que teve, sem grande sucesso, no quintal da casa onde nasci e vivi até os dezoito, nos Carvalhos, V. N. de Gaia.
Depois disso, poucas vezes terá calhado degustar mel. Nada me ficou na memória como “aquele” gosto. Até que, já na década de 80, provei o produto de um amigo de Penafiel e tive uma nova vivência no paladar, muito próxima de “aquele”gosto. Acabado rapidamente o frasco que lhe havia comprado, pedi-lhe que me vendesse mais. Na satisfação do meu pedido, elucidou-me como amigo desinteressado que, futuramente, seria preferível eu ter uma colmeia no meu quintal, podendo assim abastecer-me para todo o ano, do mel que precisava. Bom argumento para me convencer.
Contando com a colaboração desse amigo, comprei, rápido, uma colmeia já com abelhas que coloquei no quintal da casa que habito em Avintes. Livros, conversas com pessoas do ramo, aquisição de materiais, ferramentas e acima de tudo o começar a entender o funcionamento da organização “enxame”foi o início duma forte paixão. E, para mais, dando-me essa paixão, vinte quilos do precioso produto, com o tal sabor, logo no primeiro ano…

…Sete anos depois estava com apiários, de 20 a 30 colmeias cada, em Avintes - Gaia, Esmoriz – Vila da Feira, Codeçoso – Celorico Basto, Venda Nova – Gerês, para além de prospecções/experiências em outros lados. A utilização destes locais era retribuída com mel ou com o serviço de polinização que as próprias abelhas fazem, o que aumenta significativamente as produções dos pomares. Praticava a transumância entre Esmoriz, onde fazia a colheita do mel (cresta) em Junho e Venda Nova, com cresta em Setembro, pois neste último local os invernos são demasiado rigorosos para as abelhas se manterem em boas condições. Antes de o frio chegar, trazia-as para Esmoriz novamente.
O trabalho de campo era quase todo executado por mim. Poucas vezes conseguia colaboração de mão-de-obra. É óbvio que as ferroadas são muito desagradáveis. O apicultor tem processos de lidar para evitá-las, como utilizar fumo e trabalhar com a máxima serenidade. Isso não acontece, normalmente, com os colaboradores, pois o receio de serem picados tira-lhes a calma e trabalham muito rápidos, para se despacharem. Na melaria, a desoperculação e centrifugação dos favos, a decantação, filtragem e armazenamento eram trabalhos que eu considerava poderem fazer-se em tempos vagos, portanto, fazia-os só. A embalagem, colocação de rótulos e comercialização, também.
Tive trabalhos muito duros, intensos cansaços, desgostos vários e variados (alguns bem grandes), picadas também. Mas a paixão ficou e voltaria para ela se a minha situação de saúde o permitisse.