sexta-feira, 16 de abril de 2010

Primavera 2010

Durante a semana passada tivemos uns diazinhos de sol cá no Cerrado do Moinho. Logo as plantas deram sinal positivo e, talvez enganadas, começaram a preparar-se para deixar descendência.








domingo, 11 de abril de 2010

Foi verdade


Espertezas pedagógicas que dão em desastre.
Os adultos têm com as crianças, por vezes, atitudes infelizes e involuntárias, até pensando que estão a proceder bem.
Dantes, quando ainda não havia televisão e só havia rádio em algumas casas, era hábito algumas famílias fazerem visitas a outras famílias, depois do jantar, para conviverem e também contrariarem um pouco a vontade de irem dormir logo a seguir à refeição. Com os pais estavam os filhos mais novos, indo os mais velhos dar a sua voltinha ou fazer os deveres. Todas estas visitas não eram demoradas, aos olhos de hoje, pois faziam-se tendo em conta que a noite era para dormir e não começava tarde.
O que vou contar, no fundamental, passou-se mesmo. Os nomes são fictícios.
O Sr. Melo com sua esposa estavam de visita ao Sr. Santos sua esposa e filho mais novo, de uns seis anitos. A filha e o outro filho, mais velhos, após os cumprimentos de recepção, pediram licença e retiraram-se para irem acabar trabalhos escolares.
Os homens fumegavam os seus cigarros e bebericavam uma aguardente bagaceira de casa, com o café. Conversavam "conversas de homens", já que as senhoras falavam entre elas, "conversas de mulheres".
A criança, ou porque queria atenção ou porque já se habituara ao ambiente do fumo, ou sabe-se lá porquê, disse que também queria fumar. O pai Santos, "disciplinador", reprimiu, só de olhar, qualquer nova tentativa do miúdo que, como os irmãos, estava habituado a acatar "disciplinadamente", mesmo sem perceber, as ordens do pai.
O Sr. Melo, mais macio, terá sugerido discretamente que o pai deixasse a criança experimentar que perderia logo a vontade, ao engasgar-se e nunca mais pediria.
E foi o que se passou. Um dos cigarros passou-lhe pela boca, engasgou-se, tossiu etc.
Porém, ficou-lhe na alma a certeza de que não era crime fumar, mesmo que os adultos o proibissem às crianças. Se o fosse, o pai não permitiria o que se passou.
Mas que era proibido para as crianças, era.
Mais tarde, cerca dos seus oito anos, voltou-lhe a lembrança de experimentar. Vendo os colegas do colégio, que eram mais velhos, irem fumar às escondidas, para as latrinas que havia no recreio, resolveu fazer como eles.
"O fruto proibido é o mais apetecido".
Como alguns deles, enrolava barbas de milho em papel e tinha, assim, os cigarros que quisesse.
Quando arranjava algum dinheirito comprava dos autênticos, iguais aos que ia comprar para o pai.
Antes de entrar em casa passava pelo limoeiro e mascava folhas para perder o cheiro do fumo.
No princípio fumaria uma ou duas vezes por semana. Até nem gostava muito que fazia tonturas, quase de cair. Mas encostava-se à parede e passava.
Depois passou a gostar... e muito. Até punha, já casado, a mulher e os filhos a fumar, indirectamente.
Cinquenta e dois anos depois deixou de fumar por imposição de doenças graves que lhe faziam a vida num inferno de desconforto.
Mais dez anos depois começou a ouvir-se da boca dele que se sentia como nunca em termos de bem-estar.
Nunca mais fumou.
E gostava muito... mas gosta mais da VIDA.
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